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    Crónica da Corrida de Coruche: “De Peito Aberto”


    De peito aberto, sem rodeios, com sinceridade, firme, sem medos…de coração. Foi assim que Rui Godinho “Peitaça”, dos Amadores de Coruche, durante 20 anos envergou a jaqueta de ramagens do Grupo que representa, e que, a 24 de Setembro, vestiu honrosamente e pela última vez na Praça de Toiros da sua terra.

    De igual forma, a empresa “De Caras, Tauromaquia Lda” assumiu esta temporada o compromisso da gestão da Praça de Toiros de Coruche e nos três espectáculos que montou, conquistou os aficionados locais e fez deslocar os de fora, logrando casas cheias e espectáculos de interesse.

    Também de peito aberto e sem rodeios, se apresentou Luís Rouxinol Jr. em praça, com um toureio de verdade, daquele que não necessita de enganos, nem ao contrário nem de largo…simplesmente o verdadeiro.

    E por isso, de peito aberto, se conta uma corrida em que para começar, houve toiros!

    Toiros da ganadaria Palha, que saíram bem apresentados, pesados e todos com mobilidade, dos que não são da corda, pelo contrário, alguns deles mais pareciam foguetes, tal a pata com que se arrancavam. Foram mais cómodos os dois primeiros, a deixarem-se sem problemas. A arrancarem-se aos cites dos cavaleiros os dois seguintes. Com tendência para tábuas o quinto mas ainda assim, um animal que perseguia com fiereza e muita pata as montadas; e um toiro sério o que encerrou a corrida. 

    Gilberto Filipe entendeu-se com o primeiro, um toiro com 510 kg, córnea aberta, que se “doeu” desde o primeiro comprido mas que teve mobilidade suficiente para permitir ao cavaleiro realizar uma actuação em crescendo, onde demonstrou preocupação em bregar e rematar as sortes.

    António Brito Paes andou solvente com o segundo, um toiro com 515 kg, de menor transmissão, e frente ao qual o cavaleiro cumpriu de forma discreta. 

    Francisco Palha pôs emoção na sua lide logo ao primeiro comprido em que aguentou, dando vantagens à rês de 520 kg, que foi ter com ele até tábuas e aí lhe cravou o ferro. Bisou na sorte com sucesso. Nos curtos, aproveitou-se dessa condição do toiro, para insistir em cites de largo, com o toiro por vezes a partir com alegria ao cavaleiro, concretizando ferros de boa nota.

    Miguel Moura esteve correcto nos compridos, principalmente no que foi segundo, frente a um toiro com 510 kg, outro animal com muita pata e que se arrancava pronto e de largo. Também o cavaleiro se aproveitou dessa qualidade para se exibir em aguentar as investidas da rês, com cites de praça a praça, protagonizando batidas pronunciadas às quais por vezes a montada se esquivava com um salto na cara do toiro e noutras o engano levava a sortes desfeitas.

    Parreirita Cigano teve pela frente um toiro com 550 kg, que oscilou entre o se defender a procurar tábuas e o perseguir em velocidade TGV. Foi morosa e de pouco sumo a actuação do jovem cavaleiro, que não obstante o valor de fazer frente a este toiro, descurou em parte a lide, limitando-se a cumprir com a ferragem por entre demasiadas passagens em falso, e também ele a citar de largo e a provocar a investida do toiro.

    Já a corrida ia longa, demasiado longa até, quando chegou a vez de Luís Rouxinol Jr. se enfrentar com o maior e mais pesado do lote. O jovem cavaleiro surgiu em praça com uma frescura e uma garra, mas principalmente com uma vontade de tourear – leia-se diferente de pôr ferros - que marcou toda a diferença, sendo autor da mais consistente actuação da tarde. O toiro, com 620 kg, foi animal que saiu inicialmente desinteressado mas que se revelou sério, exigente e com mobilidade. Dos compridos ao palmito em sorte violino com que encerrou função, Rouxinol Jr. evidenciou o grande sentido de lide de que é detentor. Esteve bem a bregar, a parar o toiro nos terrenos, com sortes bem desenhadas e a cravar com decisão, não descurando os remates das sortes. No final, entendeu o júri atribuir-lhe o prémio de melhor lide.

    Também nas pegas houve emoção e valor.

    Pelos Amadores de Coruche, João Ferreira efectivou à primeira uma grande pega, a suportar os derrotes, e com um brilhante desempenho do seu 1º ajuda, sendo vencedor do prémio de melhor pega. Rui Godinho “Peitaça”, despediu-se nesta tarde das arenas, emocionou-se e emocionou, quer com os brindes que dedicou, quer na forma autêntica e apaixonada com que se entrega à cara do toiro. Não foi eficaz no primeiro intento, com o toiro a baixar a cara, para depois cumprir com mérito no 2º intento. De pé, as bancadas tributaram-lhe valente ovação. Encerrou funções por este grupo, o valente António Macedo Tomás que aguentou a velocidade do seu oponente, com decisão à primeira.

    Pelos Amadores da Chamusca, cumpriram Hélder Delgado à segunda, com uma pega rija, depois do toiro ter ensarilhado no primeiro intento; Mário Ferreira Duarte também consumou à segunda com boas ajudas; e Luís Isidro à terceira, com ajudas, numa pega em que o toiro derrotava muito.

    Registaram-se ¾ de casa, numa corrida com muito ambiente, na qual durante as cortesias se efectuou um minuto de silêncio em memória dos forcados recentemente falecidos, Pedro Primo e Fernando Quintela.

    E de peito aberto…Coruche viveu uma tarde de toiros à antiga!!



    Por: Patrícia Sardinha