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    Crónica da Alternativa de Rouxinol Jr.: "Em nome do Pai"


    Em nome do Pai, Rouxinol Jr. traçou por objectivo o sonho de ser cavaleiro tauromáquico.

    Ontem, 20 de Julho, esse sonho ganhou maior consistência com a tomada de alternativa. 

    Curiosamente, 100 posições separam pai e filho neste feito. A 10 de Junho de 1987, Luís Rouxinol foi o 119º cavaleiro a doutorar-se e, volvidos 30 anos, Luís Rouxinol Jr. conquista a 219ª posição no rol de cavaleiros de alternativa da História da Tauromaquia lusa. 

    Uma noite de família, de festa e de casa cheia! Atrever-me-ia até a julgar que teve a mais umas boas quantas cabeças, quando em comparação com a corrida da semana anterior, e em que figuras espanholas vieram a Lisboa. Afinal, os portugueses ainda levam gente às praças, se não mais até que os de fora, é preciso é saber reunir os ingredientes.

    E esses não faltaram nesta corrida de alternativa, bastou que se anunciassem dois dos nossos 'maiores' cavaleiros, com duas das mais consistentes futuras figuras, uma dupla de Grupos de Forcados com história e méritos provadíssimos e uma Ganadaria das que impõe respeito, seriedade, gera emoção e muitas vezes encosta em casa os que não têm "dedos para as teclas".

    E o que houve para tocar ontem em Lisboa...

    Em nome do Pai, o Dr. Joaquim Grave tem sabido dar continuidade com sucesso a uma ganadaria de prestígio. E de Galeana vieram certamente os mais bonitos da camada, alguns dignos mesmo de emoldurar. Em comportamento, pediam toureiros e tiveram-nos. Exigiam paciência e valor aos Forcados, e isso houve em demasia! Neles, os toiros, viram-se comportamentos distintos mas homogéneos na transmissão que levaram às bancadas, sérios e encastados, no geral apresentaram ter mais vontade em perseguir por trás, do que em partir adiante. 

    Das mãos de um pai emocionado, nervoso mas orgulhoso, Luís Rouxinol Jr. recebeu feliz e comovido o testemunho que tanto ansiava. Não estivesse já toda a Praça tocada pela emoção do momento, dobrou-se o sentimento quando o Junior devolveu ao Pai, um brinde certamente muito especial. 

    Na carreira de Rouxinol Jr. ficará o "Cocaína", com 570 kg e o número 114, bonito como só as terras de Galeana sabem gerar e que saiu pronto, alegre e enraçado. O jovem "doutor" apontou um grande ferro comprido, a que se seguiram outros dois de bons modos. Nos curtos, a rês revelou um registo diferente, sendo animal de pouca força, mais reservado em perseguir e adiantando-se por vezes à montada. Luís Rouxinol Jr. quis tirar proveito das capacidades lidadoras do Douro, mas não quis o toiro ter vontade em perseguir a duas pistas, no qual o cavalo é habilidoso. Houve boas intenções na marcação das sortes mas as saídas da cara do toiro nem sempre foram limpas. Contudo, cumpriu digno o jovem Rouxinol naquela que foi a noite em que realizou um sonho.

    Em nome do Pai, António Telles mantém-se fiel ao que é Tourear a Cavalo. Pela frente, um toiro com 593 kg, que saiu ao ruedo com imensa pata, chegando até a encostar às tábuas o cavaleiro da Torrinha. Não convenceu na ferragem comprida mas na curta...deliciou. O toiro, reservado, foi presença quase sempre ausente nas reuniões e isso impingiu em Telles, o arrimo de se chegar onde mais não se poderia ir. Recto, frontal e de cima abaixo, certeiro e efectivo, assim foi a ferragem. Pôs e predispôs do que careceu a rês. Lide grande, de quem sabe e pode!

    Em nome do Pai, Luís Rouxinol meteu-se nesta vida, e agora poderá ficar descansado que a continuidade do nome estará garantida em nome do Filho. Mas ainda assim, não se vê diminuída a sua intenção de não dar luta em Praça, e ontem no Campo Pequeno, foi uma "lua de mel" a actuação do cavaleiro de Pegões. O toiro, com 587 kg, castanho, bisco, teve durabilidade suficiente para proporcionar a Rouxinol deleitar-se com ele. Nos três compridos que cravou, mais perfeição não se podia exigir, principalmente no primeiro. Nos curtos, foi quando corrigiu intenção de fazer batida, levando a faltar toiro, que Rouxinol fez crescer actuação. O oponente teve raça e disposição para perseguir sem se rachar. Raspou algumas vezes, emparelhou com o cavalo e nem sempre foi pronto a investir ao cite do cavaleiro que, aguentando com a Viajante, lhe provocava o arranque para cravar e rematar com decisão. Fechou função com um grande par de bandarilhas. E assim, pela segunda vez este ano, Luís Rouxinol 'devolveu' um "murteira" a Galeana, pois para boas condições da rês, tem que haver também predisposição toureira. 

    Em nome do que terá sido o seu segundo Pai, mais precisamente em nome do Avô, também Manuel Telles Bastos mantém o registo clássico e as boas virtudes toureiras, contudo faltou romper actuação nesta noite. Pela frente um toiro com 590 kg, recebido com uma eficaz e vibrante sorte gaiola, e um primeiro comprido de grande nota. Veio a menos depois a rês, raspando muito, reservando-se nas reuniões e nem sempre resultaram ajustadas as cravagens dos ferros.

    Pecam as actuações a duo por nem sempre haver entrosamento ou possibilidade de se destaparem as reais condições dos toiros. Nesta noite essas lides estiveram a cargo de duas famílias empenhadas e cientes da ligação necessária para este tipo de actuação, sobressaindo em ambas, o ofício e a experiência dos mais velhos.

    Tio e sobrinho enfrentaram outra estampa de toiro com 605 kg, numa lide em crescendo, destacando-se o labor do tio e o sobrinho nas ressalvas.

    Já pai e filho, com um toiro de 628 kg, evidenciou-se o pai novamente com o Equus do Zambujal nos compridos, e nos curtos houve harmonia entre os artistas, com a lide a chegar às bancadas e frente a uma rês nobre e voluntariosa.

    Nas pegas a noite foi dura e os ‘graves’ pediram muitas contas.

    Pelos Amadores de Santarém pegou Lourenço Ribeiro efectivou à primeira com decisão; Francisco Graciosa consumou uma das grandes pegas da temporada. À primeira tentativa, esteve enorme de braços para aguentar a investida do toiro pronta e com raça; e Luís Seabra que consumou à segunda, perante um toiro difícil, que baixou a cara e o tentou despejar.

    Teve valor o Grupo de Coruche para aguentar a dureza das pegas que lhe tocaram. Abriu funções por este Grupo, o forcado Pedro Coelho, que consumou à quinta, com ajudas carregadas, depois de intentos anteriores violentíssimos; Paulo Oliveira à primeira consumou bem à primeira; e José Marques também efectivou à quinta tentativa, com ajudas e numa pega à meia volta, depois de um toiro que nos intentos anteriores despejou com enorme violência o forcado da cara e restante fardação.

    Dirigiu este espectáculo o Sr. Manuel Gama, conivente com o ambiente de festa e família que a corrida permitia, assessorado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva.

    Referir ainda que tanto António Telles como Luís Rouxinol foram protagonistas de duas voltas à arena nas suas actuações, assim como o forcado Francisco Graciosa. Também o Dr. Joaquim Grave teve direito a cumprir volta pelo terceiro toiro da noite, animal que inclusive teve honras de música antes de recolher aos curros e que agora já se encontra de novo nos campos alentejanos. Merecidas? Justas? Já estamos habituados a ver tanta coisa, que o que mais me vale aqui é a vontade do público…

    E assim, em nome do Pai, do Filho, do Tio, do Sobrinho, do Ganadero e dos Forcados…se fez uma Corrida de Toiros que foi talvez das mais importantes de resultados esta temporada, e até agora, no Campo Pequeno.




    Por: Patrícia Sardinha