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    Crónica de Reguengos: "Há dias e dias...e há o 15 de Agosto"


    Há dias e dias” foi o título escolhido há 15 anos, quando pela primeira vez me aventurei na escrita do que se poderia considerar uma crónica. O tema teve por base o nome da ganadaria então lidada e o espectáculo decorreu na Praça de Toiros de Reguengos de Monsaraz.

    Quinze anos depois, o mesmo local, cartel diferente… E se há dias e dias, um 15 de Agosto passado nos toiros, é sempre um dia diferente!

    Naquela que é considerada a data mais taurina do ano, havia antigamente a obrigação nas redondezas, da mesma ser vivida nas bancadas da praça de Reguengos. Nem o calor da época, nem o preço do bilhete, nem o saber que se iam encontrar apertos sentados no cimento do tauródromo, impediam enchentes.

    Hoje em dia, tudo parece ser motivo (desculpa) para não se justificar uma ida à praça. Ainda assim, a sempre bonita e agora denominada Praça de Toiros ‘José Mestre Batista’ em Reguengos, conseguiu encher por completo todo o sector de sombra, e compor o oposto com as gentes mais ‘aconchegadas’ nos lugares onde já não chegava o sol.

    Em disputa estavam dois troféus, o ‘José Mestre Batista’ para a melhor lide, e o ‘Eng. Luís Rocha’ para a melhor pega. Em competição pelo primeiro, os cavaleiros António Ribeiro Telles, Filipe Gonçalves e Tiago Carreiras, este em substituição do anunciado Marcos Tenório, recentemente lesionado. Nas pegas, os Amadores de S. Manços disputavam o prémio com os de Monsaraz.

    Lidaram-se toiros de Pinto Barreiros e Eng. Luís Rocha, todos bem apresentados e em tipo das respectivas ganadarias. Em comportamento foram no geral cumpridores, animais que se deixaram, uns com mais codícia que outros, sendo o pior do lote o lidado em quinto lugar, um manso reservado.

    António Telles abriu praça frente ao primeiro, um toiro de Pinto Barreiros com 500 kg, de pouca transmissão e com tendência para descair para tábuas, a quem o cavaleiro cumpriu com a ferragem, resumindo-se a discreta, a sua primeira actuação. Já no que foi segundo do seu lote, um ‘rocha’ com 510 kg, António andou mais a gosto para deleite dos presentes. Cravou o primeiro comprido numa sorte gaiola bem conseguida, para depois contrariar as tendências do animal em se distrair com a movimentação das bancadas. Foi nos curtos que António preconizou aquilo que melhor sabe fazer, tourear! E tourear é tão diferente de pôr ferros e pedir palmas… E mais, toureou com classe, o que é ainda mais difícil. Foi primoroso nas escolhas dos terrenos, com uma brega cuidada, a que se seguiram sortes frontais e ferros ao estribo. O quarto curto foi para memória futura. O toiro nem sempre foi oponente à altura, reservando-se por vezes, após o ferro, em perseguir, mas pôs o cavaleiro o que faltou à rês, indo acima dele que é para isso que se é toureiro. Um entendimento que partilhou o júri, elegendo-o como merecedor do prémio em disputa.

    Filipe Gonçalves tem seguindo esta temporada pela senda do triunfo, ainda que agora condicionado por uma queda recente em Beja. Contudo, a ganância e o arrimo do jovem toureiro, não saem beliscados. e mesmo com o braço direito com ligaduras, a sua passagem por Reguengos deixou grande ambiente. Frente ao que foi primeiro do seu lote, um toiro do Eng. Luís Rocha, com 535 kg, o cavaleiro algarvio sentiu a rês cortar-lhe caminho durante a brega que cumpriu eficientemente até o parar. Nos curtos, ‘moldou’ o toiro e exibiu-se nos ladeios, com a rês perseguindo a passo, sendo nobre mas agora a transmitir menos. Assentou actuação nos quiebros, tendo sido mais cingido o bom terceiro. Rematou com o ‘Xique’ e as suas ‘palmas’, empolgando as bancadas com um ferro violino. ‘No hay quinto malo’ mas em Reguengos o quinto foi o pior e Filipe Gonçalves teve que se aguentar com ele. O toiro, com 490 kg e da ganadaria de Pinto Barreiros, saiu com pata à arena, amparada tanto pelos capotes como pela brega do cavaleiro. Contudo cedo se rachou, raspou demasiado e defendeu-se o suficiente para impor limitações a Filipe Gonçalves que deixou de forma correcta a ferragem da ordem, por entre uma ou outra passagem em falso. No final, acentuou-se a má característica do toiro fazendo morosa a colocação de um par de bandarilhas e de um palmito.  

    Tiago Carreiras acusou em Reguengos a pouca rodagem com duas actuações intermitentes. Primeiro, frente a um toiro da ganadaria de Luís Rocha, de 495 kg, cumpridor mas de pouca força e que pedia que lhe pisassem os terrenos, andou alivadote sendo de melhor nota o quarto curto, em terrenos de tábuas. No que fechou a corrida, um ‘Pinto Barreiros’ com 480 kg, animal que se arrancava com raça, Carreiras esteve bem na brega com que o recebeu mas voltou a andar irregular, consentido demasiadas passagens em falso e ferros falhados, ficando pouco de registo.

    Nas pegas sentiu-se acesa competição.

    Pelos Amadores de S. Manços, foi o nóvel cabo, João Fortunato, quem deu o exemplo com uma pega tecnicamente perfeita, bem fechado de braços e de pernas, consumada ao primeiro intento. A ele se seguiu Pedro Galhardo, que depois de uma primeira tentativa em que a reunião foi desajustada levando com um piton no peito, corrigiu à segunda com eficácia. Jorge Valadas frente ao toiro reservado, tardou em carregar as sortes, e com o toiro metido em tábuas, mais difícil se tornava fazê-lo arrancar. Depois de dois intentos não efectivados, consumou à terceira a sesgo e com ajudas carregadas.

    O grupo da terra, os Amadores de Monsaraz, viram suas pegas concretizadas por André Mendes, à primeira, com o toiro a arrancar pronto ao cite, levando ainda com um piton no peito mas a efectivar à primeira. Carlos Polme consumou com decisão e à primeira, com o toiro a arrancar-se alegre. E David Silva reuniu com impacto, e com uma grande pega à primeira, logrando assim ser o vencedor do troféu em disputa.

    Dirigiu com acerto o sr. João Cantinho assessorado pelo veterinário Matias Guilherme.


    Há dias e dias, e há o 15 de Agosto, e em Reguengos foi assim…




    Texto: Patrícia Sardinha
    Fotografias: Florindo Piteira